segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Como você trata as pessoas?

"Gentileza e educação independem do poder aquisitivo", diz psicóloga



Quem nunca se sentiu triste ao ser destratado por alguém? Ser vítima da indelicadeza ou falta de educação não é fácil. Mas, e quando somos nós os causadores? Quando somos nós que destratamos o outro?  Por isso a pergunta: Você trata as pessoas da mesma forma que é tratada?
“Mesmo pessoas bem educadas, em situações de estresse e correria tendem a esquecer a educação, o bom senso e, literalmente, sair do salto”, diz a psicóloga clínica Roberta Borges. Mas, colocar a culpa no estresse, na TPM (tensão pré-menstrual), não tem fundamento, segundo ela.
Se não há desculpas para a falta de educação de pessoas que menosprezam o outro, o que há por trás das atitudes de quem, no dia a dia, é atencioso, educado, mas, eventualmente, trata os outros com rispidez?
“As pessoas que necessitam se auto afirmar, gritando ou tentando menosprezar o outro com palavras negativas, não têm segurança suficiente em relação a quem são ou o que exatamente querem. Uma pessoa age assim por, na verdade, estar de mal consigo mesma”, ressalta Roberta.
Nessa época de Natal, vendedores de lojas costumam virar alvos prediletos de arrogância e esnobismo de algumas pessoas. Confira relatos de quem sempre passa por situações indelicadas:
“As pessoas mudam de personalidade”
A vendedora Priscila Santos, de 24 anos, que trabalha atualmente em uma perfumaria no centro da capital paulista, diz que as pessoas mudam de personalidade quando estão fazendo compras. “Estou há 8 anos nesse ramo e o meu trabalho é auxiliar os clientes, perguntar se precisam de alguma coisa quando entram na loja. O  fato de chegar perto deles já é motivo para se transformarem. Muitas pessoas respondem rispidamente, fecham a cara, são indelicadas mesmo”, fala.
O que ela faz para não deixar que as indelicadezas interfiram no seu bom humor? “Não vou dizer que não fico triste. Muitas vezes já pensei em desistir da profissão, mas estou aprendendo a separar as coisas e não deixar que a falta de educação ou arrogância de alguns tenham o poder de decidir como será o meu dia”, relata. Mas e quando Priscila está do outro lado, como consumidora, como age com as outras pessoas? “Já chego com um sorriso, sou bem gentil mesmo e já fiz várias amizades por ter sido simpática, pois sei o quanto um gesto indelicado pode ferir o nosso coração. Não vou ser grosseira com alguém que está ali executando um trabalho só por que sou cliente”.
Jonathan Vieira, de 21 anos, que trabalha há 8 meses como vendedor de uma loja de sapatos, também no centro de São Paulo, relata um fato curioso. Na primeira semana de trabalho atendeu uma senhora que foi muito indelicada com ele. A cliente experimentou vários pares de sapato e, por fim, se decidiu por um modelo que não tinha o número dela. “Ela foi tão arrogante e no final foi reclamar com o meu gerente, dizendo que eu era um péssimo vendedor. Isso só por que não tinha o sapato do número dela”. Dias depois ele contou o ocorrido para uma amiga que conhecia a mulher que o havia destratado. “Minha amiga não acreditou. Disse que aquela mulher era bem educada, conhecida pela fala mansa, delicadeza, gentileza. Eu queria saber o que acontece com as pessoas quando elas vão às compras para agir dessa forma?”, pergunta Jonathan.
A resposta é plausível para a psicologia. “Muitas pessoas têm comportamento extremista quando estão comprando. Pode-se entender como um ‘poder’ em relação a quem vende, e se tornam muito arrogantes, se é que posso falar assim. Acredito que tenha uma relação direta com a autoestima, pois são pessoas que, por algum motivo, se sentem ou se sentiram inferiorizadas em algum momento da vida. E no momento em que se sentem com o ‘poder’ de compra aproveitam e crescem em cima de vendedores pela simples crença de que o vendedor precisa deles. Uma atitude errônea e sem coerência”, diz a psicóloga.
O outro lado da moeda
“Estou me policiando, pois já fui muito ríspida com as pessoas”, diz E.S., de 40 anos, que prefere não se identificar. Ela diz que já foi destratada em várias situações e que também já foi grosseira com muita gente, mas hoje prefere dar lugar à gentileza. “Quantas vezes me destrataram e eu tentava descontar isso nos outros. Hoje prezo pela educação e amabilidade”, reflete.
Mas por que as pessoas tratam as outras da forma que elas não gostariam de ser tratadas? “Acredito que a maioria das pessoas faz por pura ‘ignorância cultural’, ou por que aprenderam na família ou com a sociedade que não devem deixar barato e pagar na mesma moeda, e por aí vai. E muitas vezes também não associa que ela poderá ser tratada dessa forma um dia. O melhor a fazer é refletir, se colocar no lugar do outro e perguntar a si mesmo se gostaria de ser tratado da forma como trata as pessoas. O que vejo é que muitos não observam o seu próprio comportamento em relação aos outros”, observa Roberta.
Quem determina como você se comporta?
Na visão da psicóloga, muitas pessoas tendem a colocar a culpa no outro. Ela enumera razões infundadas para isso. “Sei que muitas coisas nos tiram do sério, mas colocar a culpa no trânsito, no estresse, não tem fundamento. Gentileza e educação são atitudes nobres e independem do poder aquisitivo, da classe social, por exemplo. Portanto, nenhum fator externo pode nos conduzir ou determinar como nos comportar. Quem tem esse poder, de determinar como nos comportamos, somos nós mesmos”, finaliza.



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